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terça-feira, 3 de maio de 2011

O paradigma do preconceito




Um dia, uma mãe se surpreende com a pergunta de uma filha. Ela estava ensinando sua filha a preparar um frango. Um preparo até tradicional, por que era passado de mãe para filha. – Mamãe, porque cortar o frango no meio, já que a forma cabe o frango inteiro? Uma curiosidade normal para uma menina de 14 anos, levando assim, a essa mãe a uma resposta bem categórica. “Esse é o segredo”.  Dizia a mãe: “Sem  o corte do frango não temos o sabor, que queremos”.  – Mas mãe!... – insistiu a filha – não existe lógica. O frango fica um dia inteiro no tempero. Não é o tempero que dá o sabor a frango? Olha filha!... – A mãe meio que desconcertada – Foi sua avó que me ensinou assim, e disse que o segredo é esse, e quem a ensinou foi a mãe dela. Não é bom discutir com os mais velhos. Sua avó sabe o que fala. Se o corte do frango é que dá o sabor é por que o corte dá o sabor e fim de papo. Essa menina esperta, não perde tempo. Quando teve a oportunidade de falar com sua bisavó, perguntou: – Vovó, porque o frango é cortado no meio?  – Ah!... Minha menininha, isso é para dar o sabor.  – Mas bisavó, não é o tempero? Sim, é o tempero, mas o corte dá o sabor do amor! – Como assim vovó? Quando chegamos ao Brasil, éramos muito pobres e não tínhamos dinheiro nem para comprar uma forma maior, e nem poderíamos comprar todos os temperos, que fazia o frango como aprendi de minha mãe. “Um dia meu esposo perguntou, “Que gostosos é esse frango? Como consegui já quem não tem forma, e nem todos os temperos?”e eu respondo? É o amor que, utilizando o que tem, faz tudo mais gostoso! Corta-se o frango, para caber na forma menor e utiliza os temperos que têm e mesmo assim, o frango fica mais gostoso.


Li em um livro que nós seres humanos somos programados desde pequenos a tomar atitudes insanas. É o caso de uma moça que ao ver um indivíduo com certas características, sai correndo apavorada. Depois de uma sessão de hipnose como seu psicólogo, ela descobre que quando muito nova, um tio gostava de fazer cócegas nelas, e ela não gostava e morria de medo, de tal forma, que quando ela o avistava, sai correndo, com isso a fobia. Todas as vezes que observava pessoas parecidas com o seu tio ela sai correndo. Para os psicólogos isso se chama paradigmas, “Modelo, padrão de verdades criadas para sentir segurança”. Na verdade criamos paradigmas para nos sentirmos seguros, e reagimos, sem pensar direito no que estamos fazendo. Na verdade, não haveria necessidade de pensar muito por que segundo estamos programado pelos paradigmas, isso é verdade, mesmo que relativa, e a reação é até inconsciente. 


Da onde surge o preconceito? Essa é uma pergunta que às vezes, não sabemos responder por que a coisa é tão inerente a ser humano que nos titubeamos para a resposta. Mas a resposta é clara. Surge da falta de questionamento, a coisas sem lógicas. Como neste conto. O corte dá o sabor. Mais que sabor? A mãe entendeu que era o sabor do frango. E assim ensinava. Se essa menina não se questiona, ela levaria o conceito precário, (preconceito) para ensinar para as outras gerações. O paradigma (verdade relativa que dá segurança) que essa mãe criou, “Não é bom discutir com os mais velhos. Sua avó sabe o que fala” é que leva a nós a desenvolvermos a conceitos mentirosos e confusos.

Por que a maioria dos negros é pobre? Uns poderiam dizer. “por que é uma raça inferior.” Mas quando estudamos a história, percebemos como os brancos utilizando a força, escravizaram e destroçaram a cultura dos negros. Tirando assim, As oportunidades que eles teriam por direito. Assim sim, dá para entender por que a maioria é pobre.

Por que a mulher, mesmo tendo os mesmo cargos dos homens recebe menores salários? E se alguém falar. “O sexo feminino é inferior!” Mas tentando entender a história, observamos que há muito tempo as mulheres estiveram com o papel exclusivo de cuidarem dos filhos. Suas vidas eram tão nobres neste cuidado que elas resistiam às atrocidades de alguns homens, que não as respeitavam.  Agora, com as facilidades dos tempos modernos, elas podem concorrer com os homens, mas mesmo assim alguns acham que o sexo feminino é inferior.

São esses paradigmas que desenvolvemos com os tempos, e ensinado de forma sutil, pelos meios de ensino que levam as pessoas a terem preconceitos.

Isso acontece com qualquer cultura. Não devemos sermos como essas mães, e seres humanos que simplesmente aceita os ensinamentos e não questionam. Questionar, não é fácil para uma criança, em plena formação do conhecimento. Por isso, as escolas têm que serem estruturadas não para encher nossos filhos de conhecimento, e sim para ensinar a questionar. Por que isso? Porque aquilo? Mas assim não é de uma forma melhor?

Lembro quando visitei uma igreja. No final do culto, questionei o pastor, sobre um texto que ele teria explicado errado. Sua arrogância foi tão grande que ele responde com uma pergunta – Quanto tempo você tem de convertido? Eu tenho um ano, respondo. – Como você, quer comparar o seu conhecimento de um ano de conversão comigo que tenho mais de dez anos. Por tanto, segue a bíblia do seu jeito, que eu sigo do meu. As pessoas...  sei lá? Tem vergonha de não saberem responderem os questionamentos dos mais jovens, eu acho.  E de não perceberem que um bom questionamento pode quebrar paradigmas poderosos em nossa sociedade.  Temos que não somente perguntar, o Porquê, mas, também perguntar o porquê não? Então eu pergunto a todos vocês que são donos da verdade. Porque não admitir está vivendo um preconceito quando não aceita que todos nós somos iguais? E que a falta de conhecimento, ou a diferença de sexo, ou cultura diferente, o poder aquisitivo não quer dizer nada.

A luta das sociedades democráticas, não é a luta de classes, como querem que acreditemos. A luta da sociedade democrática, já que essa sociedade e formada pelas diversidades, deve ser a luta contra os preconceitos. A nossa luta não é direita contra esquerda. Ou liberalismo contra socialismo, ou melhor, ricos contra pobres. A nossa luta é contra a exclusão social. É contra as pessoas que se acham melhores, só porque é filho de papai, ou mesmo de uma autoridade. Ou se sente poderoso, por que tem um poder aquisitivo um pouco maior do que os outros. 

A sociedade é violenta, por que um ego foi ferido, um paradigma foi quebrado, ou por que alguém cai de seu pedestal; e não conformando com isso tenta com a força, voltar a sua posição injusta.

Quantas pessoas têm que morrer para que possamos entender o grande mal do comportamento preconceituoso para as sociedades democráticas?

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